Mãe Penitente

Castro Alves

"Ouve-me, pois!... Eu fui uma perdida; Foi este o meu destino, a minha sorte... Por esse crime é que hoje perco a vida, Mas dele em breve há de salvar-me a morte! "E minhaalma, bem vês, que não se irrita, Antes bendiz estes mandões ferozes, Eu seria talvez por ti maldita, Filho! sem o batismo dos algozes! "Porque eu pequei... e do pecado escuro Tu foste o fruto cândido, inocente, — Borboleta, que sai do — lodo impuro... — Rosa, que sai de — pútrida semente! "Filho! Bem vês... fiz o maior dos crimes: — Criei um ente para a dor e a fome! Do teu berço escrevi nos brancos vimes O nome de bastardo — impuro nome. "Por isso agora tua mãe te implora E a teus pés de joelhos se debruça. Perdoa à triste — que de angústia chora, Perdoa à mártir — que de dor soluça! "Mas um gemido a meus ouvidos soa... Que pranto é este que em meu seio rola? Meu Deus, é o pranto seu que me perdoa... Filho, obrigada pela tua esmola!"