PERSEVERANDO

Castro Alves

(Tradução de V. Hugo) a Regueira Costa A águia é o gênio... Da tormenta o pássaro, Que do monte arremete altivo píncaro, Quergue um grito aos fulgores do arrebol, Cuja garra jamais se peia em lodo, E cujo olhar de fogo troca raios — Contra os raios do sol. Não tem ninho de palhas... tem um antro — Rocha talhada ao martelar do raio, — Brecha em serra, anta qual o olhar tremeu ... No flanco da montanha — asilo trêmulo, Que sacode o tufão entre os abismos — O precipício e o céu. Nem pobre verme, nem dourada abelha Nem azul borboleta... sua prole Faminta, boquiaberta espera ter... Não! São aves da noite, são serpentes, São lagartos imundos, que ela arroja Aos filhos pra viver. Ninho de rei!... palácio tenebroso, Que a avalanche a saltar cerca tombando!... O gênio aí enseiba a geração... E ao céu lhe erguendo os olhos flamejantes Sob as asas de fogo aquenta as almas Que um dia voarão. Por que espantas-te, amigo, se tua fronte Já de raios pejada, choca a nuvem?... Se o réptil em seu ninho se debate?... É teu folgar primeiro... é tua festa!... Águias! Pra vós cadhora é uma tormenta, Cada festa um combate! Radia!... É tempo!... E se a lufada erguer-se Muda a noite feral em prisma fúlgido! De teu alto pensar completa a lei!... Irmão! — Prende esta mão de irmão na minha!... Toma a lira — Poeta! Águia! — esvoaça! Sobe, sobe, astro rei!... De tua aurora a bruma vai fundir-se Águia! faz-te mirar do sol, do raio; Arranca um nome no febril cantar. Vem! A glória, que é o alvo de vis setas, É bandeira arrogante, que o combate Embeleza ao rasgar. O meteoro real — de coma fúlgida — Rola e se engrossa ao devorar dos mundos... Gigante! Cresces todo o dia assim!... Tal teu gênio, arrastando em novos trilhos No curso audaz constelações de idéias, Marcha e recresce no marchar sem fim! ...