Nua e Crua

Raimundo Correia

Doire a Poesia a escura realidade E a mim a encubra! Um visionário ardente Quis vê-la nua um dia; e, ousadamente, Do áureo manto despoja a divindade; O estema da perpétua mocidade Tira-lhe e as galas; e ei-la, de repente, Inteiramente nua e inteiramente Crua, como a Verdade! E era a Verdade! Fita-a em seguida, e atônito recua... — Ó Musa! exclama então, magoado e triste, Traja de novo a louçainha tua! Veste outra vez as roupas que despiste! Que olhar se apraz em ver-te assim tão nua?... À nudez da Verdade quem resiste?!