Poema inspirado nos painéis que Júlio Resende desenhou

Sophia de Mello Breyner Andresen

Nenhuma ausência em ti cais da partida. Movimento ritual, surdo rumor de búzios, Alegria de ir ver o êxtase do mar Com suas ondas-cães, seus cavalos, Suas crinas de vento, seus colares de espuma, Seus gritos, seus perigos, seus abismos de fogo. Nenhuma ausência em ti cais da partida. Impetuosas velas, plenitude do tempo, Euforia desdobrando os seus gestos na hora luminosa Do Lusíada que parte para o universo puro Sem nenhum peso morto, sem nenhum obscuro Prenúncio de traição sob os seus passos.