Medo de amar

Vinicius de Moraes

Petrópolis O céu está parado, não conta nenhum segredo  A estrada está parada, não leva a nenhum lugar  A areia do tempo escorre de entre meus dedos          Ai que medo de amar!  O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam  Entre elas e eu, que imenso abismo secular...  As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio          Ai que medo de amar!  Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo  Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar  Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco  Ai que medo de amar!  Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso  E parto a cantar canções, sou um patético jogral  Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...          Ai que medo de amar!  E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço  Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar  Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...          Ai que medo de amar!