Minha cabeça pesada balança, rola, e sai vagando pela casa como um astro penado
E a sinto examinando os velhos quadros familiares com um olhar que eu desconheço na sua fisionomia
Aqui, longe de tudo, meus dedos palpam o poema imenso das vozes da noite - eu o recolherei, talvez na madrugada do último dia
Agora é o cansaço sem remédio dos tempos sobre-humanos, das caravanas miraculosas, das religiões perdidas…
O ar está passando sobre meu tronco decepado e em breve passará sobre o meu pescoço como um plano de cristal iluminado
E se repousará da longa viagem dos espaços e ressoará para mim as harmonias dos coros angelicais
É voltado o tempo da imobilidade - nenhum movimento será feito para que nenhum acento seja perdido
As pastoras e os camponeses, os cafres e os negros, as bailarinas e os gênios deixarão a alma da dança estendida sobre a lucidez do grande campo
E algum dia, quando eu despertar, tudo será belo e nada haverá de mais profundo na minha poesia que a minha poesia ela mesma em sua nudez maravilhosa.