O anjo das pernas tortas

Vinicius de Moraes

A Flávio Porto  A um passe de Didi, Garrincha avança  Colado o couro aos pés, o olhar atento  Dribla um, dribla dois, depois descansa  Como a medir o lance do momento.  Vem-lhe o pressentimento; ele se lança  Mais rápido que o próprio pensamento  Dribla mais um, mais dois; a bola trança  Feliz, entre seus pés - um pé-de-vento!  Num só transporte a multidão contrita  Em ato de morte se levanta e grita  Seu uníssono canto de esperança.  Garrincha, o anjo, escuta e atende: - Goooool!  É pura imagem: um G que chuta um o  Dentro da meta, um 1. É pura dança!