O poeta na madrugada

Vinicius de Moraes

Quando o poeta chegou à cidade A aurora vinha clareando o céu distante E as primeiras mulheres passavam levando cântaros cheios. Os olhos do poeta tinham as claridades da aurora E ele cantou a beleza da nova madrugada. As mulheres beijaram a fronte do poeta E rogaram o seu amor. O poeta sorriu. Mostrou-lhes no céu claro o pássaro que voava E disse que a visão da beleza era da poesia O poeta tem a alegria que vive na luz E tem a mocidade que nasce da luz. As mulheres seguiram o poeta Oferecendo a tristeza do seu amor e a alegria da sua carne O poeta amou a carne das mulheres Mas não envelheceu no amor que elas lhe davam. O poeta quando ama É como a flor que murcha sem seiva Porque o amor do poeta É a seiva do mundo E se o poeta amasse Ele não viveria eternamente jovem, brilhando na luz. Quando a nova madrugada raiou no céu distante O poeta já tinha partido E seguindo o poeta as mulheres de peitos fartos e de cântaros cheios Falavam de ardentes promessas de amor. ---