Soneto ao caju

Vinicius de Moraes

Hollywood Amo na vida as coisas que têm sumo  E oferecem matéria onde pegar  Amo a noite, amo a música, amo o mar  Amo a mulher, amo o álcool e amo o fumo.  Por isso amo o caju, em que resumo  Esse materialismo elementar  Fruto de cica, fruto de manchar  Sempre mordaz, constantemente a prumo.  Amo vê-lo agarrado ao cajueiro  À beira-mar, a copular com o galho  A castanha brutal como que tesa:  O único fruto - não fruta - brasileiro  Que possui consistência de caralho  E carrega um culhão na natureza.   Hollywood, 1947.