Soneto do amigo

Vinicius de Moraes

Los Angeles Enfim, depois de tanto erro passado  Tantas retaliações, tanto perigo  Eis que ressurge noutro o velho amigo  Nunca perdido, sempre reencontrado.  É bom sentá-lo novamente ao lado  Com olhos que contêm o olhar antigo  Sempre comigo um pouco atribulado  E como sempre singular comigo.  Um bicho igual a mim, simples e humano  Sabendo se mover e comover  E a disfarçar com o meu próprio engano.  O amigo: um ser que a vida não explica  Que só se vai ao ver outro nascer  E o espelho de minha alma multiplica... Los Angeles, 1946.