Soneto do breve momento

Vinicius de Moraes

Belo Horizonte Plumas de ninhos em teus seios; urnas  De rubras flores em teu ventre; flores  Por todo corpo teu, terso das dores  De primaveras loucas e noturnas.  Pântanos vegetais em tuas pernas  A fremir de serpentes e de sáurios  Itinerantes pelos multivários  Rios de águas estáticas e eternas.  Feras bramindo nas estepes frias  De tuas brancas nádegas vazias  Como um deserto transmudado em neve.  E em meio a essa inumana fauna e flora  Eu, nu e só, a ouvir o Homem que chora  A vida e a morte no momento breve.