Uiaras, na montanha, ao sol,…

Vinicius de Moraes

Uiaras, na montanha, ao sol, sob a cascata  Rutilante, movendo as nádegas de prata  Na farta esmeralda do limo, em gelatina  Nuas, verdes, nas grandes pedras, na água fina  - Povo claro de mãos, de torsos e de seios  Que rubra solidão em mim vossos enleios  Mornos, graves, fizeram, lânguidos, sonhar  Que, em mim, se enrijeceu na ânsia de vos dar  Minha maior humanidade?...  Desejei  Vos fecundar  Não, não o doloroso e apenas  Gozo de conseguir, das vossas ancas, plenas  Frenético, a rápida sombra do distante  Ah, bem antes o sonho, o voto apaziguante  A sensação do vento da manhã, em ouro  Dançarino ideal, trazendo o pólen louro  Às flores ainda adormecidas nas estrelas...  (Qualquer coisa que vem da calma de sabê-las  Infecundas... - e só sentir fecundidade  No infecundo, e só viver dessa verdade...)  Como eu sou desigual! talvez que o meu desejo  Seja terrível... - pequena visão que eu vejo  Cresce acima de mim meu corpo animal.  Ó dor! só sinto o Bem como o supremo mal  Ó seres de paixão!...  - que mais cruel martírio  Essa espera sem fim, morrendo como um lírio  Pelo amor sem perdão das rosas impossíveis?...  No entanto, que música acordas, que invisíveis  Preces despertas, que cores descobres, claridade!  Sou bem alguém, alguma coisa, ou, uma ansiedade  De seres e de coisas?  Ah, meu corpo teme as  Trevas da noite, mas ela deseja dessas fêmeas  A treva da consumação... Mas serei eu  Depois? Será minha a minha alma e meu  O meu corpo?  Jamais.  Mínha vaidade é eterna.