Seio de Virgem

Álvares de Azevedo

O que eu sonho noite e dia, O que me dá poesia E me torna a vida bela, O que num brando roçar Faz meu peito se agitar, E' o teu seio, donzela! Oh! quem pintara, o cetim Desses limões de marfim, Os leves cerúleos veios, Na brancura deslumbrante E o tremido de teus seios! Quando os vejo, de paixão Sinto pruridos na mão De os apalpar e conter... Sorriste do meu desejo? Loucura! bastava um beijo Para neles se morrer! Minhas ternuras, donzela, Votei-as à forma bela Daqueles frutos de neve... Aí duas cândidas flores Que o pressentir dos amores Faz palpitarem de leve. Mimosos seios, mimosos, Que dizem voluptuosos: "Amai-nos, poetas, amai! "Que misteriosas venturas "Dormem nessas rosas puras E se acordarão num ai!" Que lírio, que nívea rosa, Ou camélia cetinosa Tem uma brancura assim? Que flor da terra ou do céu, Que valha do seio teu Esse morango ou rubim? Quantos encantos sonhados Sinto estremecer velados Por teu cândido vestido! Sem ver teu seio, donzela, Suas delícias revela O poeta embevecido! Donzela, feliz do amante Que teu seio palpitante Seio d'esposa fizer! Que dessa forma tão pura Fizer com mais formosura Seio de bela mulher! Feliz de mim... porém não!... Repouse teu coração Da pureza no rosal! Tenho eu no peito uma aroma Que valha a rosa que assoma No teu seio virginal?...