Último Abraço

Castro Alves

"Filho, adeus! Já sinto a morte, Que me esfria o coração. Vem cá... Dá-me tua mão... Bem vês que nem mesmo tu Podes dar-lhe novo alento!... Filho, é o último momento... A morte — a separação! Ao desamparo, sem ninho, Ficas, pobre passarinho, Neste deserto profundo, Pequeno, cativo e nu!... "Que sina, meu Deus! que sina Foi a minha neste mundo! Presa ao céu — pelo desejo, Presa à terra — pelo amor!... Que importa! é tua vontade? Pois seja feita, Senhor! "Pequei!... foi grande o meu crime, Mas é maior o castigo... Ai! não bastava a amargura Das noites ao desabrigo; De espedaçaram-me as carnes O tronco, o açoite, a tortura, De tudo quanto sofri. Era preciso mais dores, Inda maior sacrifício... Filho! bem vês meu suplício... Vão separar-me de ti! "Chega-te perto... mais perto; Nas trevas procura ver-te Meu olhar, que treme incerto, Perturbado, vacilante... Deixa em meus braços prender-te Pra não morrer neste instante; Inda tenho que fazer-te Uma triste confissão... Vou revelar-te um segredo Tão negro, que tenho medo De não ter o teu perdão!... Mas não! Quando um padre nos perdoa, Quando Deus tem piedade De um filho no coração Uma mãe não bate à toa.