I – Torre De Babel

Menotti del Picchia

Eles ergueram a torre de Babel bem na Praça Antônio Prado. O esqueleto de aço cobriu-se de carne de cimento e as vigas e guindastes eram braços agarrando estrelas para industrializá-las em anúncios comerciais. Italianos joviais, húngaros de olhos de leopardo, caboclos de Tietê arrastando o caipira, bolchevistas da Ucrânia, polacos de Wrangel, nipões jaldes como gnomos nanicos talhados em âmbar entre as pragas dos contramestres, os rangidos das tábuas do andaime, o estridor metálico das vigas de aço e dos martelos sonoros, no céu libérrimo de S. Paulo, fizeram a confusão das línguas, sem perturbar a geometria rigorosa do ciclópico arranha-céu! Lá do alto, o paulista, bandeirante das nuvens, mirou o prodígio da Cidade alucinada: uma casa de três andares pôs-se a crescer bruscamente como nos romances de Wells; outra apontou a cabeça arrepelada de caibros acima do viaduto do Chá; e começou a desabalada carreira do páreo do azul. O formidável arranha-céu com a cabeça nas nuvens abrigou no seu ventre de concreto o drama da nova civilização. Onde estás meu seráfico Anchieta, erguendo com o barro de Piratininga, pelo milagre da tua persuasão, as paredes rasteiras do Colégio?