Azul e branco

Vinicius de Moraes

Concha e cavalo-marinho  Mote de Pedro Nava  I Massas geométricas  Em pautas de música  Plástica e silêncio   Do espaço criado.  Concha e cavalo-marinho.  O mar vos deu em corola  O céu vos imantou  Mas a luz refez o equilíbrio.  Concha e cavalo-marinho.  Vênus anadiômena  Multípede e alada  Os seios azuis  Dando leite à tarde  Viu-vos Eupalinos  No espelho convexo  Da gota que o orvalho  Escorreu da noite  Nos lábios da aurora.  Concha e cavalo-marinho.  Pálpebras cerradas  Ao poder violeta  Sombras projetadas  Em mansuetude  Sublime colóquio  Da forma com a eternidade.  Concha e cavalo-marinho.  II Na verde espessura  Do fundo do mar  Nasce a arquitetura.  Da cal das conchas  Do sumo das algas  Da vida dos polvos  Sobre tentáculos  Do amor dos pólipos  Que estratifica abóbadas  Da ávida mucosa  Das rubras anêmonas  Que argamassa peixes  Da salgada célula  De estranha substância  Que dá peso ao mar.  Concha e cavalo-marinho.  Concha e cavalo-marinho:  Os ágeis sinuosos  Que o raio de luz  Cortando transforma  Em claves de sol  E o amor do infinito  Retifica em hastes  Antenas paralelas  Propícias à eterna  Incursão da música.  Concha e cavalo-marinho.  III Azul... Azul...  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Azul e Branco  Concha...                 e cavalo-marinho.