Balada da praia do Vidigal

Vinicius de Moraes

A lua foi companheira  Na praia do Vidigal  Não surgiu, mas mesmo oculta  Nos recordou seu luar  Teu ventre de maré cheia  Vinha em ondas me puxar  Eram-me os dedos de areia  Eram-te os lábios de sal.  Na sombra que ali se inclina  Do rochedo em miramar  Eu soube te amar, menina  Na praia do Vidigal...  Havia tanto silêncio  Que para o desencantar  Nem meus clamores de vento  Nem teus soluços de água.  Minhas mãos te confundiam  Com a fria areia molhada  Vencendo as mãos dos alísios  Nas ondas da tua saia.  Meus olhos baços de brumas  Junto aos teus olhos de alga  Viam-te envolta de espumas  Como a menina afogada.  E que doçura entregar-me  Àquela mole de peixes  Cegando-te o olhar vazio  Com meu cardume de beijos!  Muito lutamos, menina  Naquele pego selvagem  Entre areias assassinas  Junto ao rochedo da margem.  Três vezes submergiste  Três vezes voltaste à flor  E te afogaras não fossem  As redes do meu amor.  Quando voltamos, a noite  Parecia em tua face  Tinhas vento em teus cabelos  Gotas d'água em tua carne.  No verde lençol da areia  Um marco ficou cravado  Moldando a forma de um corpo  No meio da cruz de uns braços.  Talvez que o marco, criança  Já o tenha lavado o mar  Mas nunca leva a lembrança  Daquela noite de amores  Na praia do Vidigal.