De madrugada, na alta serra
Desencanta-se o Príncipe da Terra
De madrugada, na alta serra
Ouve-se a voz que aterra
O canto pressago, frio como um sorriso
Do Príncipe da Terra
Disse-me o vento
O vento uivante, o vento uivante
Na minha insônia em sangue
De madrugada, na alta serra
Desencanta-se o Príncipe da Terra
E as mulheres, geladas
Abandonam as casas, criam asas
Para ir ouvir o Príncipe da Terra
Cujo canto é frio como um sorriso.
Possui-as o Príncipe da Terra
Na alta serra
O grande invertido, o mágico, o louco
O amante sem sexo
Cuja cabeleira é de platina
E que tem pupilas brancas
Ah, quem me dirá - oh, desvario
Da minha poesia no fundo do espelho da bruma
Que o vento uivante, o vento uivante
Não seja a voz do Príncipe da Terra
Cantando o amor e a morte
Na alta serra?
Eu sou o Príncipe da Terra
O inutilmente desaventurado
Eu sou o Príncipe Indiferente
O deus do crime, o bem-amado
Eu sou o Príncipe Altair
Sexo fui, castrado
Plantado, tornado árvore, raiz
Garra de ódio no ventre da morte
Hoje sou o Príncipe Eunuco
De vos conseguir indesejados
Vossa boca para os meus lábios mecânicos
Vossos dedos para os meus seios de pedra
Vosso ventre para a minha espada de aço
Ó fazedoras de espasmos
Eu sou o Príncipe da Terra
Ó súcubo Altair
Cerzi a traição inconsciente
Alucinai!
De vós nascerá a dor invisível
Que deita lama no coração
Eu sou o Príncipe Impotente
O Cão hermafrodita
Meu beijo é veneno em vossos dentes
Mordei!
Percorrei mundos, transportai a morfina nas horas
Plantai espelhos súbitos de morte nas almas.