A nunca esquecer: as manhãs  Da infância, os pães alemães              A sala escura  Na casa da rua Voluntários  Da Pátria, lar de funcionários              Da prefeitura.  A nunca esquecer: minha avó  Prosternada (Deus e ela) só              Pele e ossos  A tatalar silêncio e paz  Nas consoantes labiais              Dos padre-nossos.  A nunca esquecer: a carne negra  O cheiro agreste, a pele íntegra              Nua na cama  Nas justaposições mais pródigas  Que menino não ama as nádegas              De sua ama?  A nunca esquecer: as gavetas  Velhas, à luz; as rendas pretas              As caixinhas  E as sublimes fotografadas  Mortas, mas ainda enamoradas              Ó tias minhas!  A nunca esquecer: certa mulher  Cuja face não posso mais ver              Em certo quarto  A mergulhar minha cabeça  Por entre a escuridão espessa              Do ventre farto.  A nunca esquecer: o caso Sacco  E Vanzetti nem Michel Zevaco              (Que o avô me deu!)  Que este seria o quixotismo  A arrebatar-me de ismo em ismo              A um: como o meu.