Lopes Quintas

Vinicius de Moraes

(A rua onde nasci)  A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge  E tem casas baixas que ficam me espiando de noite  Quando a minha angústia passa olhando o alto...  A minha rua tem avenidas escuras e feias  De onde saem papéis velhos correndo com medo do vento  E gemidos de pessoas que estão eternamente à morte.  A minha rua tem gatos que não fogem e cães que não ladram  Na capela há sempre uma voz murmurando louvemos  Sem medo das costas que a vaga penumbra apunhala.  A minha rua tem um lampião apagado  Em frente à casa onde a filha matou o pai...  No escuro da entrada só brilha uma placa gritando quarenta!                                      É a rua da gata louca que mia buscando                                      os filhinhos nas portas das casas...  É uma rua como tantas outras  Com o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite  A rua onde eu nasci.