O luar, sonora barcarola,
Aroma de argental caçoula,
Azul, azul em fora rola...
Cauda de virgem lacrimosa,
Sobre montanhas negras pousa,
Da luz na quietação radiosa.
Como lençóis claros de neve,
Que o sol filtrando em luz esteve,
É transparente, é branco, é leve.
Eurritmia celestial das cores,
Parece feito dos menores
E mais transcendentes odores.
Por essas noites, brancas telas,
Cheias de esperanças de estrelas,
O luar é o sonho das donzelas.
Tem cabalísticos poderes
Como os olhares das mulheres:
Melancoliza e enerva os seres.
Afunda na água o alvo cabelo,
E brilha logo, algente e belo,
Em cada lago um sete-estrelo.
Cantos de amor, salmos de prece,
Gemidos, tudo anda por esse
Olhar que Deus à terra desce.
Pela sua asa, no ar revolta,
Ao coração do amante volta
A Alma da amada aos beijos solta.
Rola, sonora barcarola,
Aroma de argental caçoula,
O luar, azul em fora, rola...