Não sei o que me angustia
Tardiamente; em meu peito
Vive dormindo perfeito
O sono dessa agonia...
Saudades tuas, Maria?
Na volúpia de uma flora
Úmida, pecaminosa
Nasceu a primeira rosa
Fria...
Perdi o prazer da hora.
Mas se num momento cresce
O sangue, e me engrossa a veia
Maria, que coisa feia!
Todo o meu corpo estremece...
E dos colmos altos, ricos
Em resinas odorantes
Pressinto o coito dos micos
E o amor das cobras possantes.
No mundo há tantos amantes...
Maria...
Cantar-te-ei brasileiro:
Maria, sou teu escravo!
A rosa é a mulher do cravo...
Dá-me o beijo derradeiro?
— Cobrir-te-ei de pomada
Do pólen das flores puras
E te fecundarei deitada
Num chão de frutas maduras
Maria... e morangos, quantos!
E tu que adoras morango!
Dormirás sobre agapantos...
— Fingirei de orangotango!
Não queres mesmo, Maria?
No lombo morno dos gatos
Aprendi muita carícia...
Para fazer-te a delícia
Só terei gestos exatos.
E não bastasse, Maria...
E morro nessas montanhas
Entre as imagens castanhas
Da tua melancolia...